sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Desabafo de um professor em crise

Há pouco mais de um ano a minha trajetória em educação tem sido ampliada e aprofundada por diversas experiências a que venho tendo a oportunidade de desfrutar, em diversos segmentos da educação.
Se por um lado essas experiências tem sido maravilhosas, por possibilitar-me ter uma visão um pouco mais ampla do universo educacional em nosso país, por outro tem trazido muitas inquietações, angustias, frustrações e desilusões. Pois ao ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre o sistema educacional e as suas nuances deparo-me diante de velhos problemas e discussões que até aqui parecem não terem nem dado em nada e, muito menos, levado a lugar algum.
Refiro-me a velha dicotomia existente entre a teoria e prática. Ao velho jogo de interesses, histórico, ao qual o nosso sistema educacional está subjugado. Aos velhos, e também aos novos, desrespeitos que os profissionais da educação são submetidos cotidianamente dentro e fora do universo escolar. Enfim, da politicagem que é o “fazer educação” em nosso país.
A cada momento que paro para estudar os temas ligado à educação, e nesses últimos nove meses tem sido bastante freqüente devido ao curso de pós-graduação em gestão escolar, sou levado, instantaneamente, a refletir sobre a minha vida profissional. Meus anseios, meus erros e acertos...  E inevitavelmente sou tomado por sentimentos de tristeza, frustração e desilusão.
A cada dia desacredito ainda mais em nossa “educação”. E o que mais me angustia é perceber que cada vez mais, e tudo isso tem contribuído para, estou me tornando cético. Não acredito nas pessoas e, consequentemente, nas ações feitas por elas, nos discursos perfeitamente elaborados, no espírito de, pseudo, companheirismo e parcerias lindamente difundido...  e o mais estranho disso tudo é que lido o dia todo, o tempo todo, com pessoas e, hoje, passei a não mais acreditar nelas.
A “educação” está fazendo com que eu perca a matiz em relação à vida... tudo tem se apresentado, tão somente, em tons de cinza. Em sabores amargos. Em paisagens sombrias. O estranho é que esse é o efeito contrário do que normalmente esperamos dela.
A “educação” está me matando lentamente. Aos poucos. Com pequenas doses neutralizantes.  Como num processo de tortura sem fim. Todos os dias. A toda hora. O tempo todo... Os meus sonhos entraram em coma induzido. Não se sabe se voltarão. Luto todos os dias, não para tentar trazê-los à vida, mas para não contaminar os dos jovens que estão a minha volta. Não sei por mais quanto tempo resistirei nessa árdua e difícil batalha. Ao passar dos minutos as minhas forças se esvaem. O tempo corre. Tenho medo de sucumbi antes do fim.
Penso em deixar a batalha. Sinto que preciso. Mas nesse momento não tenho nem forças para retroceder. Sinto-me um covarde ao pensar nessa hipótese. Mas já estou sangrando demais para continuar. Receio não suportar e acompanhar os meus sonhos.
Não sei o que fazer... Preciso de ajuda.
Preciso urgentemente ser socorrido... embora não sei se poderás me atender.
A “educação” está me matando lentamente...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os Barbixas em IMPROVAVEL em Salvador-Ba

Galera a Cia. de Teatro Os Barbixas é muito bom... e eles estarão aqui na Bahia pela segunda vez esse ano.
Para os que não conhecem aí vai um vídeo p/ apresentação.
Divirtam-se!


Salvador (BA)

Dia: 12, 13 e 14 de novembro
Horário: sexta e sábado 20h | domingo 18h
Ingresso: R$50,00 (inteira) | R$ 25,00 (meia com carteira de estudante)*
Convidados: A CONFIRMAR
Duração: provavelmente 70 minutos
Classificação: 14 anos
Local: Teatro SESC Casa do Comércio
Av. Tancredo Neves, 1109 - Pituba

[Como Chegar?]
Informações: (71) 3273-8543
*Ingressos à venda:
Bilheteria do Teatro SESC Casa do Comércio
Av. Tancredo Neves, 1109 - Pituba
Horário: terça a domingo das 13h às 20h30


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E Deus criou o mundo com o MS-DOS

Deus acessou o sistema as 12:01:00, domingo, 1 de abril.
C:\>Faca-se a luz!
Comando ou nome de arquivo invalido
C:\>Luz.exe
Luz criada
C:\>Rodar Ceu e Terra
Terra e Ceu funcionando.
0 erros.
E Deus criou o Dia e a Noite. Deus viu que havia 0 (zero) erros.
E saiu do sistema as 12:02:00, domingo, 1 de abril.
Deus voltou a acessar o sistema as 12:01:00 da segunda-feira, 2 de abril.
C:\>CD TERRA
C:\TERRA>Haja firmamento no meio das aguas e da luz.
Comando ou nome de arquivo invalido.
C:\TERRA>Firmamento.exe
Firmamento criado
C:\TERRA>Rodar firmamento.exe
Firmamento funcionando
E Deus dividiu as aguas. Deus viu que havia 0(zero) erros.
E Deus desligou as 12:02:00 de segunda-feira, 2 de abril.
Deus voltou ao sistema as 12:01:00, terca-feira, 3 de abril.
C:\>florestas.exe
Ok
C:\>animais.exe
Ok
C:\>Fazer o homem a minha imagem.exe
Erro de sintaxe.
C:\>Criar homem.exe
Homem criado.
C:\>Fazer o homem multiplicar e povoar a Terra e dominar os peixes as aves,
e ter ascendencia sobre todas as coisas que estejam sobre a Terra.
Excesso de caracteres
C:\>move homem*.*
C:\Jardim do Eden.
Diretorio inexistente.
C:\>MD Jardim do Eden
Ok
C:\>move homem*.*
c:\Jardim do eden
Ok
C:\>Inserir mulher no homem.
Parametros invertidos. Retifique.
C:\>Inserir homem na mulher.
ok
C:\>cd "Jardim do Eden"
C:\>do Eden Criar desejo.
Operaçao executada.
1 erro(s)
C:\>multiplicai.exe
Ok
E Deus viu o homem e a mulher sendo frutiferos e multiplicando no Jardim do Eden
Deus saiu do sistema as 23:00h da Quarta-feira, 4 de abril.
Deus ansioso voltou a acessa-lo 00:02h da Quinta-feira, 5 de abril...
C:\>Criar livre arbitrio.
Ok
C:\>Rodar livre arbitrio.
Ok
C:\>Eliminar desejo
Desejo nao pode ser eliminado devido a criacao do livre arbitrio.
C:\>Del livre arbitrio
Livre arbitrio e arquivo inacessivel e nao pode ser destruido.
Acione tecla de substituicao, cancelamento ou help.
E Deus viu o homem e a mulher no jardim do éden,
ja não respeitando parâmetros estabelecidos.
C:\>Criar o bem e o mal.
Ok
C:\>Ativar mal
Ok
E Deus viu que tinha criado a vergonha.
Atencao: Erro do sistema na ultima operacao E96.
Homem e mulher nao estao em
Jardim do eden. 4277732 erros.
C:\>SCAN Jardim, E.D.E.N. homem-mulher.
Homem-mulher nao encontrado
C:\>DEL vergonha.
Vergonha nao pode ser apagada com mal ativado.
C:\>DEL livre arbitrio.
Arquivo inacessivel. Nao pode ser destruido. Acione tecla de
substituicao, cancelamento ou help.
C:\>Interromper programa!
Exclamacao imperativa torna comando irreconhecivel.
Tente interrogacao ou Help.
C:\>Suspender programa
Comando ou nome-de-arquivo invalido.
C:\>Suspender programa.
Comando ou nome-de-arquivo invalido.
C:\>Suspender programa, porra!
Erro de sintaxe.
C:\>Criar novo mundo
Disco cheio.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES


Caros amigos,

Acabo de receber um e-mail que me deixou envergonhado, enquanto cidadão, e ao mesmo tempo indignado por conta da minha profissão, professor.


Leiam!

Uma frase que deve ser pensada, pois reflete a triste verdade em nosso País.

"No futebol, o Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo e todos ficaram tristes.
Na educação é o 85º e ninguém reclama..."


EU APOIO ESTA TROCA:
01 PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES


O salário de 344 professores que ensinam =  ao salário de 01 parlamentar
Essa é uma campanha que vale! Repasso com solidária revolta!


Prezado amigo!

Sou professor de Física, de ensino médio de uma escola pública em uma cidade do interior da Bahia, e gostaria de expor a você o meu salário.

Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem minguados R$440,00.

Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar? Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa. O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade!

Sinceramente, eu leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas, nesta semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro!

Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano...
São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545.
Na Itália, são gastos R$3,9 milhões,
na França, pouco mais de R$2,8 milhões,
na Espanha, R$850 mil 
na vizinha Argentina R$1,3 milhões.
Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior !

Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será:

'TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES'.

COMO VOCÊ VAI VOTAR DEPOIS DE LER ESTA MATÉRIA???

REPASSEM, EU JÁ ADERI À CAMPANHA!


sábado, 18 de setembro de 2010

Paciência...

Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
Por muito pouco a madame que parece uma 'lady' solta palavrões e berros que lembram as antigas 'trabalhadoras do cais'...
E o bem comportado executivo? O 'cavalheiro' se transforma numa 'besta selvagem' no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar...
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma 'mala sem alça'. Aquela velha amiga uma 'alça sem mala', o emprego uma tortura, a escola uma chatice. O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado...
Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais. Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.
A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta. Pergunte para alguém, que você saiba que é 'ansioso demais' onde ele quer chegar?
Qual é a finalidade de sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você? Onde você quer chegar?

Está correndo tanto para quê?
Por quem? Seu coração vai agüentar?
Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar?
As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?
Respire... Acalme-se...
O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...

Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual...
Somos seres espirituais passando por uma experiência humana.

Arnaldo Jabor

domingo, 12 de setembro de 2010

Democracia...



“O poder de um cidadão, de cada um de nós, limita-se, na esfera política,
a tirar um governo de que não gosta e a por outro de que talvez venha a gostar”
(José Saramago)


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Se o Brasil ainda fosse uma monarquia, quem seria o imperador?

por Tarso Araújo

Seria o bisneto da princesa Isabel e do conde D’eu - tataraneto de d. Pedro II, o último imperador a governar o Brasil. O nome do cara é dom Luiz de Orleans e Bragança, que atualmente tem 68 anos e vive em São Paulo (SP). Caso a República não tivesse sido proclamada, Isabel, a filha de Pedro II, o teria sucedido, sendo nossa primeira imperatriz. Ela tinha dois irmãos, mas eles morreram ainda bebês e ela era a mais velha entre as duas mulheres. O herdeiro direto de Isabel seria seu filho mais velho, dom Pedro de Alcântara (1875-1940). Ele apaixonou-se pela condessa Maria Elizabeth Dobrzensky von Dobrzenicz, da Boêmia - uma nobre que, apesar de condessa, não era herdeira de nenhum reino na Europa. Por isso, a princesa Isabel foi contra o casamento. Se quisesse ficar com ela, Pedro de Alcântara teria que renunciar a seus direitos ao trono. Sem esperanças de ver a monarquia restaurada, Pedro de Alcântara preferiu casar-se por amor, em Versalhes, na França, em 1908. A renúncia passava os direitos sucessórios da dinastia para o segundo filho da princesa Isabel, dom Luiz. Mas ele nunca assumiria o trono, pois morreu um ano e oito meses antes da mãe. Quando Isabel morreu, em 1921, o príncipe dom Pedro Henrique virou o chefe da Casa Imperial Brasileira, aos 12 anos. Ele passou dessa para melhor em 1981. A partir de então, dom Luiz de Orleans e Bragança ganhou o "direito" ao trono, numa eventual (e improvável) restauração monárquica.


Que rei sou eu?

Se não houvesse República, três pessoas teriam ocupado o trono brasileiro

D. PEDRO II (1825-1891)

O último homem a governar o Brasil Império ficou no poder por longos 49 anos, de 1840 a 1889. Acabou deposto com a Proclamação da República, em 1889, e exilou-se na França, morrendo em Paris em dezembro de 1891

PRINCESA ISABEL (1846-1921)

Ela teria sido nossa primeira imperatriz, se a monarquia não tivesse sido derrubada em 1889. Mesmo sem coroa, ela já tinha garantido seu nome na história ao assinar a abolição da escravidão em 1888, libertando cerca de 700 mil escravos

D. LUIZ DE ORLEANS E BRAGANÇA (1878-1920)

Ele era um cavalheiro, foi para a Guerra do Paraguai e se casou com a princesa Maria Pia de Bourbon-Sicílias. Mas morreu jovem, aos 42 anos, e não usufruiu nem um dia do direito ao Império Brasileiro


D. PEDRO HENRIQUE (1909-1981)

Filho mais velho de d. Luiz, Pedro Henrique teria sido Pedro III por longos 60 anos, de 1921 a 1981. Casou-se com Maria Elizabeth, princesa da Baviera, em 1937, e teve 12 filhos com ela


D. LUIZ DE ORLEANS E BRAGANÇA (1938-)

Atual chefe da Casa Imperial do Brasil, d. Luiz nasceu na cidade de Mandelieu, na França, em 6 de junho de 1938. Ele só conheceu o Brasil quando veio para cá no fim da Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, voltou à Europa para estudar química na Universidade de Munique. Desde 1967, vive em São Paulo



Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/historia/pergunta_287512.shtml

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Descobri o verdadeiro nome da minha principal doença...

MISANTROPIA é a aversão ao ser humano e à natureza humana no geral. Também engloba uma posição de desconfiança e tendência para antipatizar com outras pessoas.

Os misantropos expressam uma antipatia geral para com a humanidade e a sociedade, mas geralmente têm relações normais com indivíduos específicos (familiares, amigos, companheiros, por exemplo). A misantropia pode ser motivada por sentimentos de isolamento ou alienação social, ou simplesmente desprezo pelas características prevalecentes da humanidade/sociedade.

A misantropia não implica necessariamente uma atitude bizarra em relação à humanidade. Um misantropo não vive afastado do mundo, apenas é reservado (introvertido/timido fundamentalmente) e, é precisamente por este facto que é habitual serem poucos os seus amigos ou pessoas que estabeleçam um vinculo afetivo. Olham para todas as pessoas com uma desconfiança, é frequente serem feitos "juízos de cálculo" de cada um que se aproxime, embora muitas vezes não o demonstrem. São pessoas que não gostam de grande agitação ao seu redor, pois não se sentem bem diante de muita gente, preferindo ficar em casa a sair para locais de diversão (indisposição para ir a lugares com muita gente, por exemplo, baladas/festas, o que invariavelmente faz da pessoa uma caseira convicta). Podem ocorrer frequentes mudanças de humor: ora feliz, ora melancólico, o termómetro do estado de espírito fica louco, oscilando constantemente (poucas são as pessoas que vêem este seu aspecto, normalmente as mais próximas). Normalmente são muito perfeccionistas no que gostam de fazer e no que se comprometem a fazer. É muito frequente destacarem-se nas áreas em que estão inseridos (as que eventualmente têm um á vontade), pois dedicam grande parte do seu tempo ao trabalho.

A misantropia costuma aparecer desde logo durante a infância em crianças tímidas, introvertidas e caladas que têm dificuldades em fazer amigos, nomeadamente na escola, preferindo muitas vezes ficarem sozinhas. Com o passar dos anos, tendem a ser bastante sarcásticos/irónicos nas observações que fazem (pode-se dizer que em parte a grande timidez é disfarçada por estas duas características) - têm uma interpretação muito própria de tudo aquilo que vêem e de tudo aquilo que lhes é dito pelas outras pessoas, sendo bastante observadores e atentos ao que os rodeia embora, muitas vezes, não o pareça. Um fato notável é que são muito inteligentes, tendem a resolver desafios e enigmas com muita facilidade, já que vivem de um raciocínio puramente lógico embora não se deixam ser percebido. Também tendem a ser deslexicos, porém não em todos os casos.

Uma das explicações mais consistentes para esta aversão social deriva do facto de darem bastante relevância aos aspectos negativos que constatam nas pessoas ou simplesmente terem medo que estas os desiludam, daí as evitarem. Têm uma forte sensibilidade ficando extremamente afectados com tudo o que os rodeia (mesmo que muitas vezes não estejam envolvidos directamente) daí ser muito fácil, ao longo da vida, passarem por várias depressões.

Expressões evidentes de misantropia são comuns em sátira e comédia, embora a intensa seja geralmente rara. Expressões mais sutis são mais comuns, especialmente para mostrar as faltas/falhas na humanidade e sociedade.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Clarice Lispector

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade…
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram… Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
– E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O garoto que fugia da filosofia

Quando eu era criança me veio o temor de eu não enxergar a mesma cor, que eu denominava verde, que a cor que outros denominavam também de verde. Dávamos o adjetivo “ verde” a um objeto que tinha a cor verde. Concordávamos: aquilo que apontávamos era verde. Mas, será que o “meu verde” era o mesmo que o “verde do outro”? Eu era um filósofo e não sabia. Eu cresci um pouco e achei que perguntas desse tipo não eram sérias, e que era coisa de criança. Quis largar a filosofia, e isso antes mesmo de chegar à adolescência.

Fiquei contente em perceber que a pergunta sobre o verde havia ficado no passado. Estava livre da filosofia! Ah, que bom! Nada de perguntas malucas, que poderiam me atrapalhar não só no esporte, mas também no namoro. Um filósofo não joga bola e ninguém quer namorar um filósofo – assim diziam e assim acreditei. Além disso, perguntas daquele tipo, que até sobreviveram comigo no tempo da escola primária, não tinham trazido pouco dissabor para minha vida em sala de aula. Ah! Livre delas, terminado o tempo da filosofia, eu poderia, enfim, ser normal!

Jogando bola e namorando, tudo iria bem. Os problemas existiam, mas eram outros. No esporte, a questão era a da estratégia no basquetebol. Como fazer o adversário pensar uma coisa que não se iria fazer e, assim, levá-lo a deixar que fosse feito o que eu realmente pretendia. Finta – eis aí o nome da coisa. No namoro, a questão às vezes era parecida, quase como a do basquetebol: as meninas da mesma idade, já bem mais maduras, queriam os moços, os mais velhos, e quando vinham para namorar com garotos, também fintavam: faziam que estavam apaixonadas e nós acreditávamos, mas não estavam. Nesse caso, não era finta o nome que dávamos, era traição. Como nos mordíamos com isso!

Um dia voltei à biblioteca do meu avô, que eu havia abandonado na pré-adolescência. Quando vi estava com um livro de filosofia nas mãos. Ele falava de ética e moral, e eis que os problemas da finta e da traição estavam lá. Enganar, dissimular, trair, divulgar ideologia etc. – tudo lá. Eu pensava ter me livrado da filosofia! Mas ela estava novamente comigo.

Resolvi, então, enfiar a cabeça nos estudos das “matérias principais” Chega de só namorar, só jogar bola e, é claro, chega de resvalar em filosofia. Uma vida normal – eis o que eu queria. Uma vida normal implicava em ter uma profissão. Então, deveria passar no vestibular, fazer universidade e ganhar o chamado mercado de trabalho.

Comecei a estudar matemática para valer. Mas, rapidamente, as coisas ficaram complicadas. Eu havia aprendido bem o Teorema de Pitágoras. E já o havia aplicado à diagonal de um quadrado de lado unitário. Mas, um pouco mais velho, essa operação fez novo sentido para mim. O resultado: raiz quadrada de dois. Ora, mas essa raiz não dá um número que eu possa determinar e, no entanto, estou vendo ali que a diagonal tem começo e fim, tem de ter um número finito determinável. O cálculo mostra uma coisa, a visão mostra outro. Como? Quem estaria certo: o intelecto que aplicou o Teorema ou os olhos que não concordam com o resultado da aplicação? Não foi nem preciso eu voltar à biblioteca do meu avô para ver que estava eu, novamente, envolto com algo que não era só da ordem da matemática, mas da filosofia.

Não podendo vencer o inimigo, tratei de me unir a ele. Aceitei a filosofia como a companheira que iria fazer parte da minha vida. Mas, quando vi, ela era toda a minha vida. Eu já não era nada a não ser filósofo. E eis que me peguei com todos os problemas que citei antes, em níveis diferentes. E então vi que isso dependia de conversa, debate, vida pública, fala com outros. E que isso era possível em um lugar com liberdade. Para ser filósofo, para ser eu mesmo, precisava de liberdade. E aí fui eu pela vida, filosofando e buscando a liberdade. Buscando a liberdade e filosofando.

Ah, o basquete? O tempo tornou as pernas duras. Ah, as mulheres? Gostei bastante e ainda gosto, obrigado! Tenho a melhor delas.

Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Namoro Gramatical

Recebi um e-mail do qual desejo compartilhar com vocês o seu conteúdo...


Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.


Redação:

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.