sábado, 3 de maio de 2014

Peregrino... Solitário...


Vários obstáculos no caminho dificultaram ainda mais esse trecho do percurso da vida
Há planos atrasados, abortados e postergados
Faz-se mais que necessário parar um tempo para pensar novamente a vida...
Refazer planos e trajetórias; concepções e valores; sorte e destino...
Nesta parte do hemisfério as estações não são bem definidas
É difícil precisar algo. Decidir por qual caminho peregrinar
Já se faz noite e as únicas luzes em meio a escuridão são das tempestades de medos, anseios, desilusões
Acuado, enjaulado em um beco com saída
É terrível! Já se faz noite e a névoa dificulta o pensamento, a visão, a razão
Não sei qual é a estação... parece frio... sinto o calor do sangue...
Não sei mais onde estou; quem sou... em qual estação...

As lembranças me torturam. O presente me castiga. O futuro me atormenta
Os mapas continuam os mesmo apesar da floresta não mais existir
O velho vulcão enfurecido mantem-se em silencio
E o falcão voa livremente em sua prisão.
Puxo as rédeas da vida... onde ela está?
Quero recomeçar, mas não sei onde está o começo
Já se faz noite e a névoa esconde as pedras no caminho
Sinto as forças das maldições
Destino, sorte ou carma...
Mitos e lendas lançam seus feitiços
É preciso ver para além do visível
As pessoas não são somente o que aparentam ser
Há monstros, gmonos e duendes...
O silêncio se fantasia com seus sons
Gritos passeiam silenciosamente por entre os medos, desejos...
Sonhos, ilusões, utopias...
O mundo encantado está em (des)construção
Preciso de um porto-seguro
No deserto, no pântano, na floresta
Já se faz noite e os mapas continuam os mesmos...
Perdido, andarilho, naufrago...
Sinto as forças dos meus medos, anseios, desilusões
Quero ouvir a minha voz
Mas assim como as outras, ela mente!
Alimento-me dos frutos escondidos na nevoa
Não sei qual é a estação... quem sou... onde estou...
Nesta parte do hemisfério as emoções não são bem definidas

É difícil precisar algo. Decidir por qual caminho peregrinar...

domingo, 29 de dezembro de 2013

Hier encore...


Às vezes subitamente sou acometido pelo sentimento de solidão
Um vazio preenche todo ser
Tudo parece perder sentido
Não há razão de ser

Sinto-me cansado, esgotado...
O corpo começa a dizer-me que já não mais tenho 20 anos
Uma serie de dores físicas, psíquicas, emocionais
fazem-me ter ciência dessa verdade...

Há uma dor que não dói... Corrói!
Percorro o labirinto de minh’alma
Perco-me nas incertas certezas das minhas dúvidas
Não sinto mais dor... mas sei que dói

As forças se esvaem... O animo se esmorece
Os sonhos, a cada dia, maquiam-se de utopias
O espirito aventureiro rende-se às prisões dos medos
Recordo-me que Hier encore, j'avais vingt ans
Mas parece que nada mudou

O oceano torna-se imenso demais ser atravessado
Ou ao menos para se chegar em meio ao nada
Onde não se sabe se haverá ventos
E o medo de estar à deriva é quase uma certeza

Mais uma vez sinto-me só
Cansado... Carente... Esmorecido
As vezes penso estar chegando nas páginas finais do 5º capitulo de Hamlet
E recordo-me que Hier encore, j'avais vingt ans
Mas parece que nada mudou

domingo, 22 de setembro de 2013

Na chuva...

Tomar banho de chuva é sem dúvida alguma um dos melhores prazeres simples da vida...
Saio, eu, mochila nas costas, tiracolo dependurada.
Um típico andarilho... com rumo e destino definidos...
E eis que de repente, não mais que de repente, frequentes gotas gigantes começam a cair do céu... Eis a chuva!
Subitamente fui contagiado por uma incontrolável alegria que me fazia rir do nada...
Rir e sorrir... Simplesmente pela pura emoção de sentir-me feliz...
E, agora, completamente molhado... pingando!
Cada gota sentida massageava minh’alma...
Meu ego se deleitava... regozijava-se!
Fez-me lembrar das travessuras de outrora... do tempo de menino...
De quando brincar na chuva ainda não era proibido... não era pecado... nem transgressão...
O corpo molhado... lembrei-me do beijo
As gotas deslizavam pelo rosto...
O sorriso... os lábios... os gestos... o gosto!
A chuva cai... e eu ali parado, curtindo o meu devaneio...
Poético, romântico...
Andarilho, vagabundo...
Homem, menino...

Simplesmente apaixonado pela chuva...

sábado, 20 de outubro de 2012

Do Lado De Fora...


Sinto-me estranhamente estranho
Como se tivesse sido criado
e treinado para evitar conflitos
Mas não para gerenciá-los.

Agora aqui estou,
Perdido num labirinto sem fim
Cercado de dúvidas, medos e inquietações...

Não me reconheço mais
E qual um ser que regressa do coma profundo,
Tomado de assalto pelo vilão da amnésia,
Assim estou!

As lembranças são vagas
permitindo, assim, que lacunas
deem vida a muitas interrogações.
Nada parece fazer sentido,
Ter uma razão
Ou responder a alguns dos por quês.

Marionete nas mãos de outrem
Peça solitária do quebra cabeça alheio
Incógnita do meu próprio cara a cara
Assim me sinto!

Olho a minha volta
Tudo me parece tão estranho
Nada faz sentido
Sinto falta de não sei o quê.

As pessoas veem e vão
Alguns se repetem com frequência
Outras se vão completamente
E para sempre.

O cenário se repete todos os dias
Pessoas veem e vão
Sempre os mesmos desconhecidos...
Uns mais próximos, outros nem tanto
Mas mesmo assim,
estranhos, distantes, desconhecidos.

Rolo na cama, no vazio, nas lembranças...
Sinto-me perdido no vácuo do presente
Realidade, sonho ou desilusão?
Misantropia!

Não sei quem sou
ou quem quero ser
Os componentes desta realidade não me ajudam.
Me confundem... me angustia.

Mais uma vez olho à minha volta
Tudo permanece como antes...
Nada parece mudar
apesar do mundo girar do lado de fora.

Não faz sentido!
A razão se perde nas lacunas das lembranças...
Torno a rolar no vazio da minha cama.
Nada está como antes.

Sinto falta de não sei o quê
esquecido no silencio.
Amarrado ao tempo que não passa
Prisioneiro do vazio das lembranças.

O mundo gira lá fora
pessoas veem e vão a todo instante
Sinto-me perdido.
Não me reconheço mais

Nada parece fazer sentido
Continuo fingindo, fugindo...
As pessoas vão e veem
E o mundo continua girando lá fora.

sábado, 29 de setembro de 2012

Depois de algum tempo...



Percebo que os dias têm voado como folhas ao vento...
E pensar que não fora literalmente ontem que estive por aqui
E que não estou certo se mantei a palavra (vontade) que faz estar de volta...

O mundo dá voltas e vira-e-mexe nos deixa de ponta cabeça
Remexe, sacode, bagunça ou arruma...
Tudo parecer novo e velho ao mesmo tempo
Está tudo igual mas tão diferente

Não sei ao certo o que tempo fez ou faz comigo
Deixa-me inquieto...
Fica aqui o meu intento
Mas depois de algum tempo...
Não sei por onde... Nem sei porque
Não para quê... Nem sei por quem

“Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

(Cântico Negro - José Régio)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ser Felliz...



Passado o êxtase das comemorações festivas de fim de ano – onde tudo parece se transformar num lindo conto de fadas, recheado de pura magia, encantos e final feliz –  e a euforia do carnaval, a rotina do cotidiano, enfim, nos faz encarar a dureza do mundo real.
O fato é que, hoje, acordei ansioso, um pouco nostálgico e pensativo quanto à felicidade; e essa combinação de emoções trouxeram à tona uma série de lembranças, conversas e, consequentemente, indagações.
Podemos de fato ser feliz? Ou apenas podemos desfrutar de um conjunto de momentos de alegrias e descontrações, que somados trazem a sensação de felicidade? O que realmente é essa tal felicidade? Não seria ela simplesmente mais um produto – utópico – do consumismo capitalista? Podemos tê-la, ou ao menos senti-la, por completo ou somente em algumas áreas de nossas vidas?
Como saberei se sou feliz, já que não existe um teste ou uma formula padrão? A minha felicidade depende única e exclusivamente de mim ou o contexto e as pessoas à minha volta também tem poder decisivo? Podemos contribuir para a felicidade das pessoas que amamos ou de nada valem os nossos sentimentos para com elas – no sentido de contribuir à sua felicidade?
Acredito que por melhor que estejamos conosco e com o mundo ao nosso redor, nunca poderemos responder a esses questionamentos com propriedade e segurança, uma vez que a felicidade, assim como as verdades, é relativa.
Sendo assim, regresso ao ponto de partida: o que é felicidade? Podemos, verdadeiramente, ser feliz?
   

“Concedei-nos Senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. (Oração do A.A.)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Feliz Por Nada...

 Geralmente, quando uma pessoa exclama Estou tão feliz!, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.
Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.
Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.
Feliz por nada, nada mesmo?
Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza.
“Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo?
Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso.
Martha Medeiros

 Fonte: http://pingoeletra.blog.terra.com.br